2 de set. de 2011

Dois mundos em um

Me encontro numa sala cheia de pessoas, sendo ainda fluorescentemente bem iluminada. Uma vez tocados, doces e embalagens vazias ocupam o espaço para qual a gravidade lhes reservou. Alguns sapatos estão proporcionalmente inertes no movimento de seus calçadores. Outros descansam solitários e insistentemente parados em seu devido lugar.

Ao tempo que percebo esses detalhes, os mesmos se misturam à paisagem mutante e clara. Neste lapso ainda, a música também se perde da minha atenção. As pessoas se tornam puro movimento, sem identidade, nem consistência. Elas não desaceleram, mas percebo menos mudanças de estado corporal comparado ao restante que ali permanece como já era.

Quando finalmente me liberto dos olhares recíprocos e desnecessários, os quais me aprisionam no sorriso automático - mas não espontâneo, - olho ao meu lado, para o limite da sala. Este lado não se fazia limite, e sim aumentava a realidade. Ou a duplicava. Ou pelo menos tentava. Este lado, na verdade, não era este lado, mas o outro lado. Pena que, na verdade também, outro lado não havia. Pode se dizer que era este mesmo. Mas do outro lado.

Depois dessa fração de momento, parte in, parte finita, percebi o que causava tudo isso. Havia o que se vê, mas que serve para não ser visto, entre a interna paisagem clara e a noite externa que a continha lá por fora.
A luz se via apenas por onde havia falta dela. Os traços e limites internos se refaziam a cada momento incontável, tornando impossível enxergar seus movimentos.

Mas por favor, vamos voltar.

Deste outro lado, haviam pessoas, sapatos, balas. Havia tudo que havia aqui. Mas além disso havia também outra coisa. Ou pessoa. Ou não sei. Mas que havia, havia. Este conjunto, que era um, olhava. Não sabia ao certo para onde, nem o porquê. Mas enfim, não sei nem de mim, vá saber dele, vá saber de você.

Aquele que me olhava, adivinhe? Era eu. Sou eu. Será sempre mim. Através da verdade refletida na mentira, eu me via, como não me vejo por meus próprios olhos.

Eu, de tanto olhar, e olhar de volta, parecia estar ali, do lado que não se via, que não, de fato, havia e muito menos existia. Não sabia mais se eu estava na cópia real ou na mentira inicial. Só sabia o que eu queria. E eu queria a outra. Queria estar no reflexo de onde eu não me via.